sábado, 28 de agosto de 2010
DANIEL 12:4
“Tu, porém, Daniel, cerra as palavras e sela o livro, até o fim do tempo; muitos correrão de uma parte para outra, e a ciência se multiplicará”.
Ciência
Em busca de outras "Terras"
O astrônomo Roger Bladford explica por que recomendou aos EUA que gastem muito dinheiro na busca de planetas similares à Terra e invistam ainda mais para tentar dobrar as leis da Física e levar o homem até eles
Marco Túlio Pires
Planetas parecidos com a Terra são encontrados apenas na região "habitável" em volta de uma estrela. Uma região onde a temperatura na superfície do planeta permita a formação de água e vida (Latinstock)
"Na última década descobrimos quase 500 planetas fora do sistema solar."
"Existem obstáculos sérios para atingirmos velocidades que nos levariam até esses planetas em algumas centenas de anos"
Universidade de Standford
O astrônomo Roger Blandford chefiou o comitê de cientistas que definiu a pesquisa espacial para a próxima década
Se tudo der certo, a Nasa vai passar os próximos 10 anos ligada no centro da Via Láctea. Por causa da grande concentração de estrelas, a comunidade científica americana acredita que lá é o lugar mais provável para encontrarmos planetas parecidos com a Terra e, quem sabe, seres extraterrestres. Mas para isso, o relatório feito pelo comitê de cientistas da academia de ciências dos EUA precisa receber o aval do congresso americano e da Nasa.
A cada 10 anos, a academia de ciências dos Estados Unidos faz uma triagem de todos os projetos envolvidos com astronomia e astrofísica do mundo e faz um relatório para governo americano recomendando em quais pesquisas deve investir na próxima década. O relatório de 2010-2020 foi entregue na segunda-feira (16) pela Academia Americana de Ciências.
VEJA.com conversou com o britânico Roger Blandford, diretor do instituto de astrofísica e cosmologia da Universidade de Standford nos EUA. Ele teve a homérica tarefa de chefiar o comitê que redigiu o relatório e que, na prática, apontou a direção que a nação mais poderosa do mundo deverá seguir nos próximos 10 anos dentro do campo da pesquisa espacial.
O comitê chefiado pelo britânico sugeriram à Nasa e ao governo dos EUA gastar 1,6 bilhão de dólares em um telescópio que já tem até nome, WFIRST, previsto para ser lançado em 2020. Se for aprovado, vasculhará o centro da Via Láctea atrás de planetas parecidos com a Terra. Blandford conta como esses planetas podem ser localizados e o que faremos se encontrá-los.
O que seria um planeta parecido com a Terra?
Seria um planeta que provavelmente tem o mesmo tipo de massa que a Terra. Na verdade, usamos o termo "habitável". Isso significa que a estrela que ilumina o planeta seria parecida com o nosso Sol ou um pouco mais fria - o que o faria mais fácil de ser encontrado. E outra característica é que, se ele for habitável, gostaríamos de ver sinais de água e possivelmente oxigênio e gás carbônico. Ele precisaria ter condições físicas — gravidade, pressão, atmosfera — semelhantes aos da Terra. Um lugar onde a vida poderia se desenvolver de uma maneira análoga ao que acontece em nosso planeta.
Por que é tão importante encontrar planetas parecidos com a Terra? Por que agora?
É um assunto que fascina o homem e algo que combina o interesse popular-científico para responder a pergunta "estamos sozinhos nesse universo?". O momento é agora porque houve uma explosão de descobertas nessa área durante a última década. Há mais ou menos 10 anos, começamos a identificar os primeiros planetas fora do sistema solar, depois de muito esforço e muitos anos tentando.
Algum planeta parecido com a Terra já foi identificado?
Não. Na última década descobrimos quase 500 planetas fora do sistema solar. Nos últimos meses, 300 candidatos foram apresentados a nós, observados pelo telescópio Kepler. Nem todos os candidatos serão considerados verdadeiros, mas acreditamos que uma boa parcela será.
Algum está em um sistema parecido com a nosso?
Já conhecemos um grande número de planetas fora do sistema solar e duas mensagens estão bem claras — uma é que eles são comuns e a outra é que os sistemas planetários em volta de outras estrelas são muito diferentes. Eles não são cópias do que acontece em nosso sistema solar. Longe disso. Vemos muitos tipos de planetas e muitos tipos de ambientes diferentes. Ainda não encontramos, mas estamos chegando perto.
E por que é tão difícil identificar planetas fora do nosso sistema solar já que eles são comuns?
Eles são comuns, mas são muito apagados. A metáfora mais fácil para entender a dificuldade que encontramos em identificar esses planetas seria procurar por um mosquitinho voando bem próximo de um poste que emita bastante luz enquanto se observa de muito longe. Imagine uma estrela muito brilhante e um ponto muito pequeno que reflete essa luz, o planeta que estamos procurando. O problema pode nem ser o brilho da estrela, que pode ser filtrado até certo ponto, mas pode existir tanta poeira espacial na região que fica difícil identificar esses planetinhas. É só você lembrar que a Terra possui um trilionésimo da massa do Sol — e a trilhões de quilômetros de distância desses sistemas fica dificílimo realizar essas análises.
E como vamos fazer isso agora?
Uma das funções do telescópio WFIRST será executar as tarefas que outro telescópio, o Kepler, não consegue fazer. Ou seja, ele não vai procurar por planetas habitáveis por meio de imagens — isso o Kepler já faz —, mas ele irá estabelecer a frequência desses planetas. Isso vai nos dizer quantas estrelas como o nosso Sol possuem planetas parecidos com Saturno, Júpiter e a própria Terra. Além disso, quantos desses estão orbitando próximos à estrela ou longe e assim por diante. Queremos saber se haverá uma órbita parecida com a da Terra — se o planeta estiver muito longe da estrela, será muito frio, e muito perto, bastante quente. Nenhum desses casos resultaria em um planeta parecido com a Terra. Temos que encontrar um que esteja orbitando uma estrela parecida com o nosso Sol a uma distância semelhante a Terra.
E se encontrarmos um planeta assim, o que vamos fazer?
A ideia é conseguir imagens desse planeta e estudá-lo esgotando todas as formas possíveis. Além de tirar fotos detalhadas, teremos que tirar um espectrograma completo do planeta [Espectrograma é o levantamento das características físico-químicas de determinado corpo celeste por meio da análise da energia que ele emite]. Vamos tentar descobrir se existem moléculas desconhecidas para o homem. Mas antes de prepararmos essas observações temos que saber o que estamos procurando. E para isso, ainda é preciso desenvolver muita pesquisa.
Quais são as chances de encontramos uma outra civilização humana vivendo em um planeta parecido com a Terra? É isso que estamos procurando?
Acredito que a procura de inteligência extraterrestre causa uma grande fascinação pública e científica. Já temos alguns telescópios capazes de identificar algumas classes de sinais extraterrestres. Existem muitos telescópios que fazem um tipo de pesquisa passiva. Eles realizam as tarefas normais e dentro delas é possível extrair certas classes de sinais. Se considerarmos seriamente que há vida inteligente fora da Terra e que ela envia algum sinal — são duas coisas diferentes — que tipo de sinais eles nos enviariam? Como eles iriam tentar entrar em contato conosco? Existem tantas respostas possíveis para essas perguntas que é difícil pensar sobre o assunto. Na minha opinião, a melhor estratégia é estar sempre alerta. Ter isso sempre ocupando algum lugar em nossos pensamentos. Não existem muitos telescópios desenvolvidos para encontrar sinais estranhos, eles não teriam muita utilidade científica. Basta que fiquemos de olhos bem abertos.
Existem missões específicas para identificar esses sinais?
Não acredito que seja fácil desenvolver um programa coerente para procurar e reconhecer esses sinais, se é que eles existem. Existem muitas pessoas tentando fazer isso, mas não sei dizer se elas vão conseguir. É um dos grandes mistérios da vida, tenho a mesma curiosidade que qualquer pessoa, mas não acredito em nenhuma das duas coisas — que existe ou não existe — eu realmente não sei! Mas essa é a graça, teremos que esperar e ver o que acontece.
Os humanos enviam sinais que poderiam ser reconhecidos por alienígenas?
Com certeza! Enviamos sinais o tempo todo. Todos esses programas de TV são transmitidos para o espaço. A TV é o tipo de sinal mais comum, mas pode ser qualquer outro. Existem muitos outros tipos de comunicação acontecendo localmente e a maioria das ondas vai parar no sistema solar e até fora dele. Não sei se existem alienígenas tentando detectá-las, mas estamos emitindo sinais o tempo todo.
Se a comunidade científica não tivesse que se preocupar com dinheiro, quais missões seriam adicionadas ao relatório?
O número de missões que gostaríamos de incluir no relatório é 10 vezes maior do que qualquer orçamento poderia suportar. Contudo, é justo dizer que os 90% que ficaram de fora requerem um desenvolvimento tecnológico pesado.
Quais são os projetos que poderão ser escolhidos a partir de 2020?
Eu diria que existem dois candidatos muito fortes — um telescópio focado na espectroscopia, chamado IXO — e uma missão principal concentrada no estudo de planetas habitáveis próximos ao sistema solar.
Depois que encontrarmos um planeta habitável, será possível viajar até ele?
Bem, acho que a resposta é não. Trata-se de um problema com as leis da Física. Se eu disser, por exemplo, que o planeta habitável mais próximo está a 10 anos luz de distância da Terra, isso significa que, viajando a velocidade da luz, a jornada duraria 10 anos. Se viajássemos a metade dessa velocidade, levaríamos 20 anos. Agora, se considerarmos a velocidade máxima que conseguimos atingir no espaço com a tecnologia atual, ou seja, um milionésimo da velocidade da luz, é possível perceber como é difícil ter esperanças. Além de desenvolver uma nova tecnologia de viagem no espaço teremos que transcender as leis da Física. Não estamos lidando com tecnologia especulativa — de ficção científica ou coisas do tipo. Muitas pessoas têm ideias malucas sobre como vamos conseguir isso. As leis da Física são implacáveis e tudo que fazemos precisa ser extremamente bem entendido e testado. Dito isso, existem obstáculos sérios para atingirmos velocidades que nos levariam até esses planetas em algumas centenas de anos. Por isso, eu diria que não. Não vamos visitar esses planetas tão cedo, mas vamos trabalhar duro para que isso aconteça.
Especialistas estudam a possibilidade de humanos “embarcarem” em um asteróide
O novo objetivo da Nasa, ao que parece, é possibilitar a visita de astronautas a asteróides. Segundo Laurie Leshing, representante da organização, a Nasa estaria tão empolgada com o novo projeto como quando levou o homem à Lua.
Estudando melhor asteróides, também saberíamos como nos defender de uma possível colisão. A exploração humana dos corpos espaciais seria baseada na missão japonesa Hayabusa, que retornou a Terra recentemente, com amostras de asteróides.
Especialistas de universidades, da Nasa, do governo dos Estados Unidos e da indústria irão se reunir para determinar o que será necessário para que o homem pise em algum asteróide.
Esse objetivo é parte do plano de Barack Obama para a Nasa – o Congresso americano ainda está decidindo sobre a verba que será destinada à organização no ano que vem, mas isso não está impedindo os cientistas de fazerem seus planos. Eles confiam que a tecnologia que seria desenvolvida pagaria os investimentos iniciais no projeto.
Ficaremos no aguardo sobre mais informações sobre a visita de astronautas a asteróides. [Space.com]
Planeta Marte é ideal para plantações
Não é de hoje que pessoas na Terra estão reclamando de falta de espaço para a agricultura. Também não é tão recente a iniciativa dos programas espaciais de aterrissar em Marte e descobrir mais sobre o nosso planeta vizinho. Pois cientistas da Universidade de Sydney (Austrália) descobriram algo que pode fazer a humanidade matar esses dois coelhos com uma cajadada só: o ambiente marciano é perfeito para praticar a agricultura.
Para chegar a essas conclusões, os cientistas simularam um modelo de crescimento vegetal em marte para comparar. No caso, as plantas teriam que se desenvolver dentro de cápsulas hidropônicas, e não totalmente ao ar livre.
Os cientistas afirmam que o solo vermelho do planeta é ideal para o crescimento de espécies vegetais, e a gravidade reduzida de Marte irá exigir menos água e adubo do que aqui na Terra. É que o solo sob gravidade marciana é capaz de armazenar mais água, portanto perde menos com a evaporação. Este aumento de eficiência significa que nós poderíamos usar incríveis 90% menos de água para irrigação. O uso de fertilizantes também poderia ser facilmente reduzido, o que torna a plantação muito mais econômica.
Mas a gravidade, que pode ajudar nesse quesito, também seria capaz de atrapalhar. Como a gravidade é apenas um terço da nossa, o fluxo da circulação da água pelas plantas cai de velocidade na mesma proporção, o que poderia asfixiar microorganismos atuantes, além de matar as raízes que necessitam de oxigênio.
Além disso, uma lavoura em Marte poderia ser mais “poluente”. O solo marciano consome oxigênio mais rapidamente e demanda mais, o que resulta em um aumento de 10% nas emissões de CO2. Então, teríamos que arranjar providências para evitar um efeito estufa em Marte também. Isso tudo, claro, se é essa ideia for colocada em prática um dia
Poderá haver fazendas no Espaço?
Assim como as plantas aqui na Terra retiram do solo os nutrientes necessários para seu crescimento, vegetais poderão ser usados, no futuro, para coletar nutrientes do solo da Lua ou de Marte. Ao menos é o que sugere um estudo da Universidade da Flórida (EUA), em parceria com a NASA.
Durante o programa Apollo, que funcionou até o início dos anos 70 e levou homens a pisar na Lua, foram feitas experiências com plantas no espaço, mas só agora, quarenta anos depois, que elas estão sendo seriamente levadas adiante. O solo lunar, que foi cuidadosamente coletado para análise na ocasião, é composto de pó solto, solo propriamente dito (uma mistura de minerais e matéria orgânica, líquidos e ar), rochas quebradas e outros materiais. A princípio, considera-se que seria até um solo fértil, já que não foi encontrada nenhuma toxina que impeça o crescimento de plantas.
É claro que os astronautas não retiraram toneladas de material da Lua, por isso os pesquisadores não puderam montar aqui na Terra uma lavoura de solo lunar para comprovar suas teorias. É aí que entra a biologia molecular, para estudar o solo lunar disponível para análise e concluir se é possível que os vegetais cresçam ali sem precisar efetivamente fazer uma plantação. Por essa razão, estão observando geneticamente como as plantas reagem ao solo lunar e quais os nutrientes que se retiram dele. Segundo um dos coordenadores da pesquisa, a descoberta será útil não apenas para saber se as plantas podem crescer na Lua, como também para ver que substâncias úteis os vegetais pedem retirar para o nosso uso.
Cerca de 35 espécies de plantas permaneceram crescendo normalmente, em boa saúde, depois de ficar em contato com amostras de solo lunar das missões Apollo 11 e 12, do final dos anos 60. Da mesma forma, animais colocados à exposição dessas amostras não sofreram nenhum efeito nocivo.
Pelo contrário: as plantas pareceram apreciar os nutrientes das amostras, que continham elementos tais como ferro, magnésio e manganês. O problema é que o solo é pobre em outros elementos importantes, como nitrogênio, fósforo, enxofre e potássio. Assim, o solo lunar “cru” não seria suficiente para o desenvolvimento das plantas. No futuro, dizem os cientistas, será possível que os astronautas passem mais tempo em nosso satélite natural, já que poderão produzir seu próprio alimento.
Para dar andamento ao projeto, contudo, será preciso mais uma visita do homem à Lua. Ainda falta coletar alguns dados básicos sobre a ação de microorganismos úteis às plantas na captura de nutrientes do solo. Como o material disponível foi coletado há 40 anos, esses microorganismos já estão todos mortos, seria necessária uma nova viagem para coletar mais. Os cientistas afirmam que bastam algumas centenas de gramas do material para chegar às conclusões pretendidas.
Conseguindo atingir esse objetivo na lua, os pesquisadores já têm uma nova meta em vista: Marte. Alguns estudos com sondas não-tripuladas já testaram o desenvolvimento de plantas no solo marciano, com a ajuda de alguns componentes químicos, mas o procedimento ainda é mais incipiente. É um plano para um futuro não tão próximo. E embora não haja previsão de uma viagem tripulada à Lua (a próxima não tripulada está planejada para 2015), há uma previsão para o homem visitar Marte, em 2020: é o projeto Orion
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